Vítima, de 22 anos, teve a solicitação de parada fora do ponto negada
João Vítor Brum, especial para o Diário
Desde 2016, uma lei municipal garante a mulheres, idosos e deficientes o direito de solicitar, após às 22h, a parada de coletivos fora do ponto. Entretanto, uma jovem de 22 anos denunciou ao Diário que, na noite da última quarta-feira (4), teve o pedido de parada negado pelo motorista, além de ter sido agredida verbal e fisicamente pelo cobrador do coletivo, que faz a linha 512 (Quarteirão Brasileiro).
Rute Ferreira da Silva estuda na Faculdade Arthur de Sá Earp (Fase) no turno da noite e, em alguns dias, sai da aula após as 22h. A jovem mora no Alto Independência e precisa pegar dois ônibus para chegar em casa, e contou que já foi assediada na Rua Paulo Barbosa às 19h, e que, por isso, tem medo de andar sozinha no Centro.
- As pessoas falam que o Centro não é perigoso, mas um homem já me perseguiu às 19h na Rua Paulo Barbosa. Se existe a lei, ela deve ser cumprida - disse Rute.
Não há estatísticas sobre casos de furtos, roubos e assédio na região do Centro Histórico, mas, na última semana, uma pessoa foi assaltada às 16h na Rua Dom Pedro. Além disso, o número de furtos a pedestres aumentou 64% em quatro anos.
A lei nº 7.480, de 28/12/2016, estabelece que mulheres, idosos e deficientes possam solicitar a parada dos ônibus fora dos pontos, a partir de 22h. A parada deve ser feita sempre que solicitada, em locais onde seja possível e dentro do trajeto da linha.
Há cerca de duas semanas, Rute solicitou a parada de um ônibus que opera a linha 512, em um trecho da Rua do Imperador, próximo à entrada da Paulo Barbosa, onde fica o ponto do ônibus que vai até sua casa.
- Quando solicitei a parada, o motorista me disse que eu estava inventando a lei, me chamou de louca e se recusou a parar. Pedi ajuda ao fiscal, que se desculpou pelo transtorno e disse que conversaria com seu supervisor sobre a possibilidade de parar no local solicitado - contou Rute, que passou pelo transtorno novamente anteontem.
- Ao subir no ônibus, o cobrador gritou "entrou a louca!", e começou a contar sobre o que houve anteriormente a uma idosa que estava no coletivo. Solicitei novamente a parada, que foi negada. A passageira disse que eu só poderia descer no terminal, e então sentei ao seu lado e mostrei a lei, que tenho salva no celular - explicou.
- Então, ela agarrou minha mão, me sacudiu e começou a falar alto. O cobrador saiu de seu lugar, me segurou pelo braço, me apertou e me fez levantar. Chegando no terminal, o fiscal alegou que a parada não seria possível no Centro pois 'não é um local perigoso', algo não especificado na lei - disse Rute, revoltada.
Nesta quinta (5), ela foi até a Upa Centro para abrir um Boletim de Atendimento Médico e seguiu até a 105ª Delegacia para registrar a ocorrência, onde foi informada que precisaria do nome do funcionário, e então ligou para a Viação Cascatinha.
- Expliquei a situação e pedi o nome do cobrador, mas a empresa se negou a passar e o funcionário que atendeu me deixou falando sozinha e desligou o telefone. Não sei mais o que fazer - completou a jovem.
Questionada, a CPTrans informou que irá notificar a empresa para que proceda com o treinamento da equipe, em atendimento à legislação citada.
A Viação Cascatinha informou que faz periodicamente o trabalho de orientação e instrução aos colaboradores, para que cumpram a legislação. Entretanto, a empresa esclarece que os profissionais encontram dificuldades em parar em alguns locais em razão da impossibilidade viária, que pode colocar em risco a segurança do passageiro.
A empresa vai buscar identificar o colaborador envolvido na denúncia e todas as medidas cabíveis serão tomadas.