João Vitor Brum
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Ao longo dos últimos anos, o Diário tem denunciado o abandono do patrimônio histórico petropolitano. Um dos maiores símbolos desta situação é o prédio que abriga o Cefet, que conta com muitos problemas, em especial na parte externa, como pedaços da fachada se soltando e pintura descascada. Nesta semana, o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca informou que já investiu mais de R$ 1 milhão em obras de conservação e manutenção do prédio, e que gasta cerca de R$ 150 mil anualmente com o espaço. Investimentos na área de acessibilidade e modernização do local totalizam quase R$ 600 mil de 2019 até agora.
O Cefet inaugurou o campus de Petrópolis em setembro de 2008, e, atualmente, conta com o total de cinco cursos, sendo um técnico, em Telecomunicações, que é integrado ao Ensino Médio; dois que graduam os alunos como bacharéis, de Engenharia de Computação e Turismo; e dois de Licenciatura, em Matemática e Física.
A única forma de ingressar nos cursos de graduação do Cefet, desde 2009, é por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a partir do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em todo o estado, há apenas oito campi da instituição, que se tornou federal em 1978. Na Região Serrana, apenas Nova Friburgo e Petrópolis contam com sedes do Cefet.
Cefet quer que ponto de ônibus seja deslocado; PMP nega
No fim de fevereiro, parte da cimalha da fachada do prédio caiu sobre a calçada da Rua do Imperador, próximo aos pontos de ônibus da Viação PetroIta, o que gerou muita apreensão entre os usuários dos coletivos que param no espaço, como a advogada Marta de Araújo, que mora no Dr. Thouzet e trabalha na Rua Aureliano Coutinho, e utiliza o ponto pelo menos duas vezes por dia.
- Um dia, eu estava sentada no banco do ponto e ouvi um barulho atrás de mim, e, quando fui olhar, era um pedaço da fachada do prédio que havia se deslocado e caído no chão. É muito preocupante, porque, até agora, ninguém foi atingido, mas pode acontecer algo grave - disse Marta.
Durante alguns dias, pedaços de cimento podiam ser encontrados espalhados por toda a calçada, e pedestres, receosos, evitavam passar pelo local, com medo de que outros pedaços caíssem do prédio.
Além disso, as paredes da imponente edificação estão com a pintura descascada, as janelas estão com pedaços quebrados e soltos, vidros de janelas estão quebrados, grades estão danificadas e, em algumas calhas, grandes plantas nasceram e estão tomando conta dos canos.
O Cefet destacou que, em 2016, solicitou que a Prefeitura trocasse o local do ponto de ônibus localizado em frente ao edifício, pelo fato de que o excesso de trepidação agrava a formação de fissuras, o que, segundo o órgão, foi reforçado pelo Iphan por meio do ofício nº 229/2016.
Entretanto, a Prefeitura informou que, em nenhum momento, o Cefet apresentou comprovação técnica de que possíveis abalos estruturais seriam decorrentes do volume de trânsito de ônibus.
O ponto de abrigos está instalado no local há, pelo menos, 12 anos, e, de acordo com a CPTrans, recebe, em média, 805 passageiros por hora, atendidos por uma frota de 48 coletivos/hora.
Ainda segundo a PMP, desde a revitalização do Centro Histórico, entregue em 2008, não houve nenhum tipo de notificação por reprovação dos abrigos instalados. A administração informa que todos os aspectos da revitalização foram aprovados à época.
Em 12 anos, mais de R$ 1 milhão foi investido no espaço
De acordo com o Cefet, desde 2008, mais de R$ 1 milhão de reais já foram investidos em obras específicas de manutenção e conservação do prédio. Entre as intervenções, o órgão federal destaca a reforma do Bloco B, concluída em 2013 e que custou cerca de R$ 400 mil; e a reforma e restauração do conjunto de telhados do campus.
Para revitalizar o telhado, foram investidos aproximadamente R$ 240 mil, para que fossem reparadas as estruturas de sustentação e as telhas e calhas. A obra foi concluída em 2018 e é considerada a mais importante intervenção no espaço, já que, segundo o órgão, todos os problemas na fachada são relacionados a processos de deterioração ocorridos devido a pontos de infiltração que a edificação apresentava.
A obra no telhado foi essencial pois não seria possível realizar obras de conservação ou restauração da fachada sem que, antes, o telhado fosse reformado. Agora, o campus busca captar recursos para a restauração e pintura da fachada.
De acordo com o Cefet, aproximadamente R$ 150 mil são gastos todos os anos para realizar os serviços de manutenção do espaço, o que, em 12 anos, representa cerca de R$ 1,2 milhão.
Com relação à queda da cimalha da fachada, o órgão informou que uma equipe técnica, formada por engenheiros e arquitetos, fará uma análise nos próximos dias para informar a causa e também a necessidade de uma ação imediata no local.
A equipe é a mesma que compõe o grupo de estudos da restauração da fachada, que já realiza o levantamento de custos e as formas de atuação necessárias.
A conservação do prédio está atrelada ao convênio realizada entre o governo do Estado e a cidade, que fez a cessão ao governo federal para que o campus fosse instalado em Petrópolis. Mesmo a cessão não prevendo que o investimento em manutenção seja feito pelo Cefet/RJ, a instituição destaca que tem feito investimentos regulares no espaço.
R$ 600 mil investidos em acessibilidade e modernização
Atualmente, uma obra de acessibilidade está em andamento no campus, com previsão de término ainda no primeiro semestre deste ano. A intervenção foi possível graças à uma emenda orçamentária apresentada pelo deputado federal Glauber Rocha, no ano passado.
A verba permitiu que fossem adquiridos elevadores e outros itens para acessibilidade, como rampas elevatórias. O valor total do investimento ficou na casa dos R$ 400 mil, segundo o Cefet.
Além disso, foi finalizada a licitação para modernização da casa de força e para a substituição do transformador, um investimento em torno de 190 mil reais. Esta primeira fase se iniciará entre abril e maio deste ano e, posteriormente, o objetivo é captar recursos para refazer toda parte elétrica do prédio.
Sobre o prédio
Um dos mais imponentes do Centro Histórico, o prédio que hoje abriga o Cefet foi inaugurado em 1859, no estilo neoclássico. O local já abrigou uma Delegacia, quartel do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar, além da coletoria estadual. A primeira reforma no prédio aconteceu em 1944.
O espaço é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que atua na fiscalização e orientação relativa a intervenções no espaço. De acordo com a assessoria do Cefet, o Iphan atua em parceria com o órgão em todos os projetos que envolvem processos arquitetônicos.
Em nota, o Cefet destaca, ainda, que, durante toda a instalação do campus, o Iphan sempre foi consultado e orientou a fazer reformas e que, com base nas orientações do Iphan, foram realizadas as obras no telhado e agora serão feitas as reformas de acessibilidade.
O Iphan informou que fiscalizou o espaço no ano passado e que, na ocasião, foram verificados desgastes e detalhes a serem reparados, mas nenhum risco estrutural grave foi detectado durante a vistoria.
O prédio faz parte do Plano Anual de Fiscalização do Iphan e outra vistoria está prevista para o mês de março. Caso a equipe do órgão perceba infrações no bem tomado, pode haver cobrança de multa, calculada a partir do valor do bem ou do dano causado.
Em toda a cidade, são pelo menos 40 conjuntos arquitetônicos tombados pelo Iphan ou pelo Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural), incluindo palácios, casas de personalidades importantes, calhas de rios etc.
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