Ou seja, vinhos orgânicos ou biodinâmicos. Ou biológicos, como dizem os europeus. Isso para ficarmos na esfera do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado esta semana.
Orgânicos. Para começar, uma distinção: a rigor, não é o vinho que é orgânico — porque o que é orgânica, ou biológica (bio, como designam os franceses) – é a vinha. Não necessariamente o vinho dela resultante. Ou seja: o que a legislação exige para conceder a “certificação biológica” é que os vinhos sejam produzidos a partir de parreiras sobre as quais não se apliquem agrotóxicos, herbicidas, pesticidas e outras químicas, para combater as pragas, corrigir o solo, etc.
Obs: mas a legislação permite a adição de algumas substâncias químicas (inclusive o sulfito, em doses reduzidíssimas) para conservação ou correção de sabor e resistência à exportação, sobretudo quando o mercado comprador é distante.
O essencial é que a agricultura orgânica acredita que dispensar o uso de pesticidas propicia à vinha e, consequentemente uma maior autenticidade na tradução das características do hoje chamado terroir – para utilizar essa expressão que vai-se tornando clichê.
No passo seguinte, surgiram os vinhos Biodinâmicos (que bem poderiam ser chamados de veganos!). No vinhedo, o ambiente é quase místico: as ervas daninhas que crescem ao lado do parreiral são comidas por gansos (e não aradas por tratores) ou, no máximo, por mãos humanas. Usam-se, também, vespas para combater aranhas que furam as uvas; aveia – que é plantada entre as fileiras do vinhedo para fertilizá-lo -- insolação privilegiada (leste-oeste) para o combate dos fungos e outras soluções criativas dentro do rigor ecológico. Em síntese, o cultivo biodinâmico adota as seguintes “cláusulas pétreas”: valorização do solo e da planta em seu habitat natural, através do uso de preparados e compostos de origem vegetal, animal e mineral. Aplicações dos compostos em épocas precisas, levando em consideração as influências astrais e os ciclos da natureza. Aplicação dos preparados biodinâmicos em doses homeopáticas. Preparados biodinâmicos de plantas medicinais, com a finalidade de prevenção de doenças nas plantas. Proteção do solo: adubação verde e utilização do calendário biodinâmico para a realização das atividades vitivinícolas.
Curiosidade: o mais famoso vinhedo do mundo — La Domainde de la Romanée-Conti — é orgânico desde 1985 e mais. O seu proprietário, o célebre (no universo dos vinhos) Aubert Villaine, decidiu-se pelo cultivo biodinâmico em 2007.
Finalmente, diria que o elo que precisa ser melhor trabalhado daqui para a frente é a mobilização do consumidor final para que ele responda a essa mudança de relação terra- tecnologia- mercado- saúde, adotando-a e compartilhando-a (embora sabendo que por ora vai pagar mais caro). Como? Bebendo com critério e moderação e, por outro lado, apoiando a escolha (e compra) desses vinhos ambientalmente comprometidos com a sobrevivência do planeta. E nele, a sobrevivência dos nossos filhos, netos, bisnetos e do cacho de uvas que há de nascer “despoluído” em 3019!
O que torna o produto final mais caro, obviamente. Mas é uma tendência sem retorno.