Natália Rodrigues natalia.rodrigues@diariodepetropolis.com.br
Hoje, 01° de abril, é considerado o Dia da Mentira. Normalmente, as pessoas mentem para fazer uma surpresa, pregar uma peça em um amigo ou até mesmo para se livrar de um problema. Apesar de parecer apenas uma brincadeira inofensiva, existem mentiras que afetam e modificam a vida de algumas pessoas, principalmente com a expansão das redes sociais. Vários casos de Fake News são espalhados rapidamente mas, infelizmente, a verdade sobre os fatos não é difundida na mesma proporção.
A mestre em psicologia social e doutoranda em psicologia pela UERJ, dra. Stella Rabello Kappler (foto), explicou que algumas abordagens da psicologia tratam a mentira como um comportamento aprendido por repetição.
- O indivíduo desde pequeno, logo nas fases iniciais da vida, aprende que quando se depara com situações em que é questionado sobre algo que aconteceu, a omissão é uma saída. E pode inventar uma história para tentar mascarar aquela situação e evitar um momento desconfortável para ele – disse.
Em relação aos sintomas e motivos que levam a pessoa a mentir, a especialista explicou que a ansiedade é uma das características que levan a pessoa a cometer tal prática. Há um estudo de comportamentos, dentre eles o adaptativo, que foi selecionado ao longo da história da nossa espécie para explicar o ato da mentira.
- Em uma situação mais constrangedora, a pessoa inventa uma história diferente da que de fato aconteceu e com isso vai desenvolvendo o hábito a partir da observação de comportamento de pessoas adultas, principalmente figuras com as quais ela tenha algum tipo de vinculação ou uma iteração no cotidiano. Podendo ser os pais, familiares e professores.
Por meio dos comportamentos de mentira, as pessoas conseguindo sair de situações constrangedoras e que geram ansiedade e o observador acaba internalizando esse hábito para evitar também tais emoções. “As crianças sofrem muita influência nas interações do meio social em que vivem, e esse comportamento pode ser maximizado ou minimizado. Tudo vai depender de características da personalidade e como a situação é interpretada”, falou.
A mentira é um comportamento presente no cotidiano e todos estão sujeitos a tal ato e isso é algo bastante comum no meio cultural. Para quem acha que não tem consequências, a médica garante que sim.
- Isso pode trazer consequências diversas, como dificuldades no relacionamento das crianças com os pais e outras figuras de cuidado. Porque a partir do momento que a criança é vista como aquele indivíduo que está sempre inventando uma história para obter alguma coisa, acaba ficando mais em evidência o comportamento negativo. Além disso, a mentira pode ser um sintoma de um quadro de patologia - conta Stella.
A prática pode ainda provocar dificuldades nos relacionamentos interpessoais, problemas no trabalho, no relacionamento amoroso, uma vez que o indivíduo que tem o hábito de mentir insere isso em todos os contextos da vida.
- O ideal nesses casos é procurar um terapeuta que orientar o indivíduo de uma forma mais esclarecedora, porque às vezes a própria pessoa está identificando o problema de relacionamento, mas não consegue ver que aquilo tem relação com seus próprios comportamentos próprios dela – disse.
A especialista destacou que os comportamentos podem ser notados no indivíduo que tenta contar uma mentira. Destacando que tudo precisa ser feito com muito cuidado através de interpretação de sinais de forma conjunta.
- Geralmente quando a pessoa é questionada para reproduzir várias vezes aquele mesmo relato e não é totalmente fiel, ela cria algumas versões bastante diferenciadas. É claro que nem sempre falamos a mesma coisa da mesma maneira, só que a pessoa quando inventa tem dificuldades de reproduzir aquilo em todos os momentos. Nesse caso se enrola, gagueja e tenta arrumar outros tipos de argumentos. Algumas técnicas não só na psicologia, mas outras áreas de investigação estudam comportamentos relacionados a questão da mentira. No entanto, é importante destacar que toda a avaliação precisa estar dentro de um contexto - explica.
Para Stella, a pessoa tem que aceitar que precisa da ajuda de um terapeuta para trabalhar as questões ligadas ao comportamento mentiroso, porque muitas vezes a mentira é um sintoma, mas pode ainda ter origem em outras questões que não foram bem elaboradas ao longo da vida.
A operadora de telemarketing e auxiliar de coordenação, Renata Ríspoli, contou uma situação vivida em um trabalho, há cinco anos. Por conta de uma mentira das colegas, acabou sendo dispensada.
- Um dia bloqueie uma pessoa em uma rede social e escrevi ‘menos uma’, quando cheguei para trabalhar fui despedida, porque, coincidentemente, uma pessoa havia pedido as contas e algumas colegas acharam que eu estava falando sobre esse caso e foram até a patroa e falaram que eu estava postando que ‘graças a Deus outra tinha ido embora’, sendo que eu não sabia da história. Me expliquei, mas ela falou que não poderia mais voltar atrás e que a demissão já estava pronta – falou.
Como diz aquele velho ditado de que mentira tem perna curta, com o passar dos anos, a patroa reconheceu o erro e convidou Renata para trabalhar novamente em sua empresa.
- Esse ano fiquei surpresa ao vê-la em minha casa me convidando para retornar ao trabalho. Foi uma grande satisfação porque meu caráter e o meu trabalho foram reconhecidos. Hoje trabalho no mesmo lugar, só que no período noturno. A melhor parte foi ouvir das pessoas que só escutavam coisas negativas ao meu respeito que tiveram outra impressão ao me conhecer – disse.
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